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Filme etnográfico e DOCUMENTÁRIO
Filme etnográfico e DOCUMENTÁRIO

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https://recriartes.comunidades.net/documentario-e-filme-etnografico

Esta página pretende complementar e aprofundar a página do site anterior.

Minha primeira produção no curso da 

FILME etnográfico de família urbana:

"O gaiteiro LÚDICO".

 

https://www.cineset.com.br/o-filme-etnografico-e-o-cinema-documental/

 

 

 

 

Este filme clássico realizado por Robert Flatherty, rodado em 1922, documenta um ano na vida de Nanook, um caçador esquimó e a sua família que lutam para sobreviver nas condições adversas da natureza em Hudson Bay, no Canadá. Apenas com imagens, sem diálogos, este documentário mostra o comércio, a caça, a pesca e as migrações de um grupo praticamente intocado pela tecnologia industrial. Um clássico do cinema documentário e um dos mais importantes filmes etnográficos (Antropologia Cultural) de todos os tempos.

 

Minha resenha crítica sobre o filme:

    O filme “etnográfico” Nanook of the North (Nanook, o esquimó), do cineasta Robert Flaherty, procura mostrar a visão do protagonista Allakariallak que recebe o nome artístico de Nanook (significa urso na língua Inuit), membro do povo indígena esquimó Inuit, que lidera na busca da sobrevivência com sua família em condições ambientais severas da natureza (frio extremo, escassez de comida e água, ataque de animais etc.).

 Esteticamente o filme insere “documentos” em uma estrutura narrativa ficcional, baseada no realismo fotográfico com ótimos planos e enquadramentos incluindo a beleza dos cenários naturais de Hudson Bay, Canadá, que persuade sensivelmente para a existência de um mundo social. Existe uma dramaticidade no registro dos costumes que permite identificação do espectador com o protagonista em seu sofrimento e em sua felicidade, gradualmente o espectador é absorvido pela diegese de Flaherty.

   Com um discurso narrativo documental, o filme utiliza a linguagem cinematográfica de forma profissional relativo a 1922 (planejado por vários anos) e declara expor a “realidade” com cenas do cotidiano, comportamentos e hábitos de Nanook no norte do Canadá, retratando o “ponto de vista” dos Inuit, com certas intervenções ficcionais ou subjetividades do cineasta, como por exemplo a construção de meio iglu (cenário artificial para favorecer a iluminação), presença de atores, sorrisos para a câmera etc. Segundo Marco Antônio Gonçalves (2019, p. 546), “os Inuit não caçavam mais com lanças e arpões, e sim com armas de fogo, que foram interditadas por Flaherty durante as filmagens”, fato que podemos nos perguntar: estaria esse “documentário” a serviço da exploração econômica de peles com auxílio dos Inuit?

   Esse filme pode ser considerado em parte documentário e em parte ficção, em outras palavras, segundo Jean Rouch uma “etnoficção” (ROUCH apud GONÇALVES, 2019, p. 547), ou “a potência do falso” (DELEUZE, 2007), sem compromisso com a exploração da pesquisa antropológica e sim uma exposição parcial da realidade com evidentes interesses econômicos, pois era explorador de minas de ouro e tinha patrocínio da empresa francesa comerciante de peles Revillon Freres (GONÇALVES, 2019, p. 544-545).

    O que parecia interessar a Flaherty era a descoberta de uma nova impressão de autenticidade e de construção da verossimilhança (aparência de verdade), e não a fidelidade de documentar os fatos socioculturais e se aproximar do real, do cinema verdade que está longe da ficção. Esse filme trouxe o antigo problema epistemológico entre verdade/falsidade e realidade/ficção.

  O filme etnográfico ou cinema etnográfico, subgênero do documentário, pode ser também um ramo especializado da pesquisa exploratória antropológica, tem como compromisso a representação, nas dimensões sociais e culturais, de um povo através dos recursos tecnológicos audiovisuais e dos princípios da Antropologia. O filme analisado nos deixa outras questões: essa “etnoficção” encobre a verdadeira realidade de exploração dos esquimós que não interessa para o sistema capitalista colonizador e dominador? O modo de ver de Flaherty nos faz ver através da sua subjetividade ou da sua objetividade documental?

Bibliografia:

DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2007.

GONÇALVES, Marco Antônio. O sorriso de Nanook e o cinema documental e etnográfico de Robert Flaherty. Sociol. Antropol., Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 543-575, ago. 2019. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2238-38752019000200543&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 15 fev. 2021. Epub Aug 19, 2019.  https://doi.org/10.1590/2238-38752019v929.

ORTIZ, Joana Monteiro. Um olhar sobre o outro: a perspectiva sobre outras culturas na obra de Robert Flaherty. 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. 2007.